Fábio Mozart
A Fundação de Cultura de João Pessoa publicou edital para escolher o texto da “Paixão de Cristo” a ser encenado no Ponto de Cem Réis. Para ser selecionado, o texto deverá observar alguns critérios, entre eles “estar contextualizado com as questões da contemporaneidade, ser original e não ferir nem denegrir a reputação ou imagem de pessoas ou instituições”.
Nosso compadre Maciel Caju, dramaturgo dos melhores, imaginou um texto dramático que reflete toda sua originalidade e genialidade. Descartou logo a personagem de Pilatos e outros prepostos do império romano, para não impressionar desagradavelmente à pátria italiana, cujo povo tem ligação profunda com os episódios narrados na Bíblia. Criou um ambiente neutro, para não “denegrir imagens de pessoas ou instituições”. Waldemar Solha queria botar o estandarte nazista na cena da “Paixão”, o que foi motivo de severa reprovação de Chico César e demais mandatários da cultura tabajarina. Pensando nisso, Maciel tirou logo a águia, símbolo do Império Romano, que poderia muito bem ser confundida com a outra águia imperial, do velho e temido Tio Sam. Diferente de Solha, que insistiu em fazer paralelo entre a saga do Cristo e o totalitarismo moderno, Maciel não quis passar a imagem de um povo indignado, por isso perdedor. Todo mundo na cena da Paixão de Maciel parece ter saído de uma fábula, com seres que habitam o reino da fantasia, sem nenhuma referência a pessoas ou instituições. A traição de Judas ficou de fora, porque poderia ensejar similitudes com fatos recentes da política local.
Em sendo assim, criou-se um espetáculo deveras original, onde situações que poderiam estimular interpretações desconfortáveis tiveram que ser adaptadas. Os personagens são seres imaginários, míticos, possuindo elementos atemporais. Exemplo: foi banida a cena da expulsão dos vendilhões do templo, que bem poderia lembrar as desavenças do alcaide pessoense com alguns cabeçudos vendedores ambulantes. O pai do Redentor teve que trocar de antropônimo, justamente para não lembrar outro José cujo nome constrange e embaraça a trupe amarela.
Renova-se a cena com essa versão nunca antes vista do espetáculo sobre os últimos dias de Jesus. O Ponto de Cem Réis, transformado em palco, será adaptado para a encenação inusitada, que certamente desagradará aos gregos, troianos e peemedebistas, extremistas salientes, veneradores das guerras e arengas inescrupulosas. A coisa toda será tão light que a trilha sonora foi desenvolvida para acalmar a ansiedade e o estresse da multidão, ao som de suave melodia.
Iludir e afastar o povo da realidade seria um sinal da era do anticristo? As profecias anunciam a morte dos “grandes príncipes”, que seriam os políticos, todos corrompidos. Essa passagem certamente não estará no texto de Maciel Caju, afinal um talentoso conciliador e adulador da nova corte.
www.fabiomozart.blogspot.com
A Fundação de Cultura de João Pessoa publicou edital para escolher o texto da “Paixão de Cristo” a ser encenado no Ponto de Cem Réis. Para ser selecionado, o texto deverá observar alguns critérios, entre eles “estar contextualizado com as questões da contemporaneidade, ser original e não ferir nem denegrir a reputação ou imagem de pessoas ou instituições”.
Nosso compadre Maciel Caju, dramaturgo dos melhores, imaginou um texto dramático que reflete toda sua originalidade e genialidade. Descartou logo a personagem de Pilatos e outros prepostos do império romano, para não impressionar desagradavelmente à pátria italiana, cujo povo tem ligação profunda com os episódios narrados na Bíblia. Criou um ambiente neutro, para não “denegrir imagens de pessoas ou instituições”. Waldemar Solha queria botar o estandarte nazista na cena da “Paixão”, o que foi motivo de severa reprovação de Chico César e demais mandatários da cultura tabajarina. Pensando nisso, Maciel tirou logo a águia, símbolo do Império Romano, que poderia muito bem ser confundida com a outra águia imperial, do velho e temido Tio Sam. Diferente de Solha, que insistiu em fazer paralelo entre a saga do Cristo e o totalitarismo moderno, Maciel não quis passar a imagem de um povo indignado, por isso perdedor. Todo mundo na cena da Paixão de Maciel parece ter saído de uma fábula, com seres que habitam o reino da fantasia, sem nenhuma referência a pessoas ou instituições. A traição de Judas ficou de fora, porque poderia ensejar similitudes com fatos recentes da política local.
Em sendo assim, criou-se um espetáculo deveras original, onde situações que poderiam estimular interpretações desconfortáveis tiveram que ser adaptadas. Os personagens são seres imaginários, míticos, possuindo elementos atemporais. Exemplo: foi banida a cena da expulsão dos vendilhões do templo, que bem poderia lembrar as desavenças do alcaide pessoense com alguns cabeçudos vendedores ambulantes. O pai do Redentor teve que trocar de antropônimo, justamente para não lembrar outro José cujo nome constrange e embaraça a trupe amarela.
Renova-se a cena com essa versão nunca antes vista do espetáculo sobre os últimos dias de Jesus. O Ponto de Cem Réis, transformado em palco, será adaptado para a encenação inusitada, que certamente desagradará aos gregos, troianos e peemedebistas, extremistas salientes, veneradores das guerras e arengas inescrupulosas. A coisa toda será tão light que a trilha sonora foi desenvolvida para acalmar a ansiedade e o estresse da multidão, ao som de suave melodia.
Iludir e afastar o povo da realidade seria um sinal da era do anticristo? As profecias anunciam a morte dos “grandes príncipes”, que seriam os políticos, todos corrompidos. Essa passagem certamente não estará no texto de Maciel Caju, afinal um talentoso conciliador e adulador da nova corte.
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