O fantástico e surreal mundo da ignorância
Fábio Mozart
Otto Cavalcanti, para quem não sabe, é um destacado artista plástico, representante das vanguardas das artes na Espanha, com reflexo em toda a Europa. Atualmente ele vive em Barcelona. Desde os anos 60, circula entre Londres, Paris e Madrid, expondo suas obras na maioria dos museus e instituições do velho continente.
Otto Cavalcanti nasceu em Itabaiana, Estado da Paraíba, em 1930. Depois de muitos anos longe de sua terra natal, Otto resolveu visitar Itabaiana no ano passado. Comovido com a realidade itabaianense, de pobreza material e cultural, Otto procurou a Prefeitura e pessoas influentes da cidade, com a idéia de instalar uma fundação para divulgar sua obra e fomentar a produção artística dos jovens. Sua esposa ficou pasma ao saber que na cidade não existe nenhum museu, biblioteca ou qualquer equipamento público ligado à disseminação da cultura.
Diante da quase absoluta falta de interesse dos seus conterrâneos por suas idéias, Otto desistiu da fundação. O conceito mais próximo de cultura que se tem por aqui é ligado a esses grupos musicais chamados “forró de plástico”, promotores do emburrecimento da população. Cinema de qualidade, bom teatro, acesso a livros é quase uma piada para a juventude. Imagine uma exposição de quadros de Otto Cavalcanti. Pois o pintor trouxe da Espanha alguns quadros, para expor. A obra de Otto Cavalcanti é um mergulho no vasto universo pessoal do artista, um mundo que reflete as personagens e vivências brasileiras, ecos de sua adolescência na próspera Itabaiana dos anos 40. Suas telas apresentam um estilo fantástico e irreal. Pois a atual geração de itabaianenses não deu a mínima bola para as aquarelas de Otto. A obra exposta ficou às moscas. Desiludido pela falta de reconhecimento em sua terra natal, Otto voltou para a Espanha, onde é chamado de “El gran Maestro brasileño”.
Já em Pernambuco, o deputado José Marcos fez um apelo ao Ministério da Cultura, através da Mesa da Assembléia Legislativa, no sentido de estudar uma fórmula “para manter contato com o premiado pintor paraibano Otto Cavalcanti, radicado na Espanha, visando a possibilidade de uma exposição dos quadros daquele artista nordestino nas principais capitais do Brasil, especialmente em João Pessoa (PB)”. Enquanto muitos querem ver a exposição de Otto, ele “veio para os seus que não o reconheceram”, parodiando a frase bíblica sobre o Judeu que foi escorraçado por seus patrícios.
O deputado pernambucano justificou sua propositura afirmando que “é comum valorizarmos o que é importado, deixando muitas vezes ao esquecimento e em segundo plano as pratas da casa". Essa prata, hoje com cabelos prateados e beirando os oitenta anos, recebe elogios dos maiores críticos de arte do mundo, incluindo Josep Maresma, da Associación Internacional de Críticos de Arte. Em Itabaiana, passou por lunático, com idéias absurdas de promover cultura, sem estar comprometido com o partido A ou B, sem dinheiro e sem ligação com os Big Brother da vida.