quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

AS “EXCELÊNCIAS” E OS "CHINELOS"-CIDADÃOS

Fernando Eneas

Consta nos anais do nosso judiciário que: um juiz do Paraná desmarcou uma audiência porque um trabalhador rural compareceu ao fórum de chinelos, conduta considerada “incompatível com a dignidade do Poder Judiciário”.

Não muito antes, policiais do Distrito Federal fizeram requerimento para que fossem tratados por "Excelência", tal qual promotores e juízes.

Há meses, foi noticiado que outro juiz, entrou com uma ação judicial para obrigar o porteiro de seu condomínio residencial a tratar-lhe por "doutor".

Tais fatos poderiam apenas soar como anedotas ridículas, “óperas-bufas” da necessidade humana de “aparecer” criar (e pertencer) às castas privilegiadas.

Os palácios de mármore e vidro da Justiça, os altares erguidos nas salas de audiência para juízes e promotores... e o tratamento "Excelentíssimo" dispensado às altas autoridades são resquícios diretos da mal resolvida proclamação da República brasileira, que manteve privilégios e hábitos herdados da monarquia destinados aos detentores do poder.

Com a extinção da monarquia, a tradição foi mantida por LEI, impondo-se diferenciado tratamento aos "escolhidos", como se a respeitabilidade dos cargos públicos pudessem, numa república, ser medida pela "excelência" do pronome de tratamento.

O "Você sabe com quem está falando?". “Eu lhe prendo”. Olhe nos meus olhos” e outras bufonarias, passaram a ser trato corriqueiro em se tratando das “excelências” para com seus súditos-cidadãos.

É fato que a arrogância humana não seduz apenas os “excelências” estatais. A seleta casta universitária ( advogados, incluídos) e religiosa, mantém igualmente a tradição monárquica das magnificências, santidades, eminências e reverências. Tem até o "Vossa Excelência Reverendíssima".

Somos, assim, uma República com tradições de monarquia. Somos uma República-monárquica.

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