ADEUS, FILHA
Lionel Michaud chora em frente ao necrotério de Porto Príncipe, onde caminhões despejaram
centenas de corpos. Entre os mortos está sua filhinha de 10 meses: ela e a mãe morreram
soterradas em casa
Com a força de trinta bombas atômicas, o grande terremoto que
sacudiu o Haiti destroçou a capital, Porto Príncipe, causou um número
ainda "inimaginável" de mortos, vitimou brasileiros e deixou o país,
já paupérrimo, mais arrasado do que nunca
Quando o mundo acabou no Haiti, às 4 e 53 da tarde de terça-feira, o mais terrível foi que, por algum tempo, os mortos viveram. Com a força infernal de trinta bombas atômicas, o terremoto aconteceu no pior lugar possível. Seu coração de terrível poder, o epicentro, praticamente coincidiu com as ruas e encostas esquálidas de Porto Príncipe, a capital. Pouca coisa resistiu. Os casebres, os prediozinhos precários, os escassos edifícios mais imponentes. O topo da catedral, com suas duas torres, desapareceu. O arcebispo morreu. O Congresso ruiu, com o presidente do Senado lá dentro. Hospitais, escolas, hotéis. Uma universidade inteira tragou 1 000 viventes. No palácio presidencial, em pomposo estilo francês, foi como se uma foice gigante tivesse ceifado o prédio, na horizontal, e ele se reacomodasse, alguns metros mais abaixo. "Estou andando sobre corpos", disse Elisabeth Préval, a mulher do presidente, depois de escapar do choque mortífero que tudo engolfou. Zilda Arns, uma campeã da humanidade na luta para salvar crianças da desnutrição, não conseguiu escapar, da mesma forma que quase duas dezenas de militares brasileiros da força da ONU no Haiti. O prédio de cinco andares ocupado pelos funcionários civis da ONU também veio abaixo, com mais de 200 pessoas dentro, entre as quais o segundo no comando, o carioca Luiz Carlos da Costa.
Quantos morreram? Talvez 50 000. Ou 100 000. Quem se arriscaria a calcular? "Inimaginável", definiu René Preval, o presidente sem teto – perdeu o palácio e a residência particular –, abrindo os braços, no meio da rua, perplexo. Os vivos vagavam como almas penadas, sem ter casa para onde voltar ou, tendo, sem coragem para entrar nela. Os que iam morrer pediam um socorro que não vinha. Na primeira noite, os gritos eram muitos, constantes, lancinantes. Aos poucos, foram diminuindo. "Hoje, quinta-feira, não escuto mais ninguém", disse a VEJA o coordenador de uma entidade assistencial, Jean Claude Fignole. "Os escombros ficaram em silêncio. Os que continuam vivos estão muito fracos para gritar. Alguns apenas ainda estão com os celulares acesos."
FORÇA SOBRENATURAL
O palácio presidencial, construído em 1918, antes e depois da tragédia: como uma foice gigante
que desfechasse um golpe na horizontal
Lionel Michaud chora em frente ao necrotério de Porto Príncipe, onde caminhões despejaram
centenas de corpos. Entre os mortos está sua filhinha de 10 meses: ela e a mãe morreram
soterradas em casa
Com a força de trinta bombas atômicas, o grande terremoto que
sacudiu o Haiti destroçou a capital, Porto Príncipe, causou um número
ainda "inimaginável" de mortos, vitimou brasileiros e deixou o país,
já paupérrimo, mais arrasado do que nunca
Quando o mundo acabou no Haiti, às 4 e 53 da tarde de terça-feira, o mais terrível foi que, por algum tempo, os mortos viveram. Com a força infernal de trinta bombas atômicas, o terremoto aconteceu no pior lugar possível. Seu coração de terrível poder, o epicentro, praticamente coincidiu com as ruas e encostas esquálidas de Porto Príncipe, a capital. Pouca coisa resistiu. Os casebres, os prediozinhos precários, os escassos edifícios mais imponentes. O topo da catedral, com suas duas torres, desapareceu. O arcebispo morreu. O Congresso ruiu, com o presidente do Senado lá dentro. Hospitais, escolas, hotéis. Uma universidade inteira tragou 1 000 viventes. No palácio presidencial, em pomposo estilo francês, foi como se uma foice gigante tivesse ceifado o prédio, na horizontal, e ele se reacomodasse, alguns metros mais abaixo. "Estou andando sobre corpos", disse Elisabeth Préval, a mulher do presidente, depois de escapar do choque mortífero que tudo engolfou. Zilda Arns, uma campeã da humanidade na luta para salvar crianças da desnutrição, não conseguiu escapar, da mesma forma que quase duas dezenas de militares brasileiros da força da ONU no Haiti. O prédio de cinco andares ocupado pelos funcionários civis da ONU também veio abaixo, com mais de 200 pessoas dentro, entre as quais o segundo no comando, o carioca Luiz Carlos da Costa.
Quantos morreram? Talvez 50 000. Ou 100 000. Quem se arriscaria a calcular? "Inimaginável", definiu René Preval, o presidente sem teto – perdeu o palácio e a residência particular –, abrindo os braços, no meio da rua, perplexo. Os vivos vagavam como almas penadas, sem ter casa para onde voltar ou, tendo, sem coragem para entrar nela. Os que iam morrer pediam um socorro que não vinha. Na primeira noite, os gritos eram muitos, constantes, lancinantes. Aos poucos, foram diminuindo. "Hoje, quinta-feira, não escuto mais ninguém", disse a VEJA o coordenador de uma entidade assistencial, Jean Claude Fignole. "Os escombros ficaram em silêncio. Os que continuam vivos estão muito fracos para gritar. Alguns apenas ainda estão com os celulares acesos."
FORÇA SOBRENATURAL
O palácio presidencial, construído em 1918, antes e depois da tragédia: como uma foice gigante
que desfechasse um golpe na horizontal
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