sábado, 30 de janeiro de 2010

Jessier Quirino e Paulo Coelho

Fábio Mozart

Quem fez a esdrúxula comparação foi o poeta Zanony, em mesa de cerveja no bar do Zé. O confronto é extravagante porque Jessier Quirino é um poeta e Paulo Coelho também escreveu letras de músicas no passado, mas a distância de um para outro é abissal no que se refere à produção de cada um nos dias que correm. Quirino faz versos saborosos com a faculdade que possui seu espírito de artista para pegar os mangaios da cultura popular e transformá-los em jóia rara. Paulo Coelho é um escritor medíocre que se tornou bestseller por obra e graça da mágica marqueteira.

Zanony garante que os dois, Jessier e Paulo Coelho, devem seu sucesso a um truque simples: pegam um monte de matérias de difícil digestão, passam numa peneira e servem ao público aquele xerém já diluído. Os dois são magos. Coelho transforma um monte de besteiras como viagens astrais, seres de outros planetas, almas gêmeas e terceiro olho em coisa séria. Jessier Quirino se apodera das imagens estereotipadas do matuto nordestino, criando personagens e imagens boas para o consumo do público médio. “O ‘bicho' de Paulo Coelho foi Raul Seixas, e o ‘bicho’ de Zé da Luz foi Catulo da Paixão Cearense. Jessier Quirino tem Zé da Luz como seu ‘bicho’”, argumenta ebriamente o poeta Zanony. “Bicho”, no caso, é a inspiração.

É tema para discussão entre letrados e críticos. Eu simplesmente não tolero o Paulo Coelho e sou admirador do trabalho do Jessier Quirino. Estando no banheiro, e sem nada para ler além de um livro do Coelho, prefiro me divertir lendo bula de xampu ou rótulo de sabonete. Nem para isso servem os livros de auto-ajuda do Paulo Coelho, no meu caso.

Sujeito pernóstico, Zanony garante que aprendeu algumas coisas com Paulo Coelho. As mais importantes: se você deu a bunda quando mais jovem, mesmo por curiosidade, isso faz de você um mago, pois aprendeu o feitiço de encantar serpentes e fazer sumir cobras. Se você, mesmo sendo um escritor banal, consegue entrar para a Academia Brasileira de Letras, você não é mago nenhum, porque Sarney também está lá com seu “Marimbondos de Fogo”. Falar de alma gêmea não vende só Sabrina, Samantha e outros livrinhos ruins. Vende também livros de Magos.

Se Paulo Coelho é um saco vazio ou não, desconheço porque só li duas ou três páginas do seu primeiro livro. Foi o bastante para esgotar minha paciência de leitor desacostumado com as profundidades do tesouro de conhecimentos exotéricos ali contidos. Jessier Quirino é um gênio da poesia popular, se é que existe poesia impopular. Na função de contador de causos, o cara é fera. Nunca um poeta exerceu tão bem os dois ofícios, de escritor e ator nas performances de sua própria obra. Por seu estilo original, vem se destacando. Que me desculpe Zanony, mas tu parece que bebe!

Em tempo: pessoalmente, Jessier Quirino é chato, não fala com as pessoas em Itabaiana, terra onde ele capta os personagens mais caricatos de seus versos engraçados. É de casa para o escritório, sem dar um bom dia a seu ninguém. Ele admite que é tímido. Ninguém acredita, vendo sua performance na TV e ao vivo. Esquisitices de artista...

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