sexta-feira, 17 de julho de 2009

Fábio Mozart - Um doido contra a ditadura

Um doido contra a ditadura

Fábio Mozart

João Pessoa, como toda cidade, teve e tem seus doidos, personagens folclóricos, tipos populares que ainda hoje são lembrados. Quem não se lembra de Pão de Bico, Açoite, Vassoura, Tenente da Gelada, Caixa D’água e Mocidade? Pois é do Mocidade que quero falar, depois de ler sua biografia escrita pelo jornalista Gilvan de Brito.

Mocidade apareceu por aqui ninguém sabe de onde. Ele diz que nasceu em Souza, mas ninguém jamais conheceu um seu parente. Sabe-se que desde 1937, Mocidade já andava pelas ruas de João Pessoa como garoto de rua. Em 1944, ele era lavador de carros no Ponto Cem Réis. No ano seguinte, podia ser encontrado nos palanques e bancos de praça, defendendo a legalidade contra o nazismo e o fascismo. Virou tribuno do povo. Onde tivesse gente e um banquinho, Mocidade mandava ver o verbo.

E foi assim até morrer, em 1981. Esbravejou contra o Estado Novo de Getúlio Vargas, lutou pela redemocratização na Segunda República e combateu os militares na fase negra da ditadura castrense. Ficou famoso, pois mesmo analfabeto, aprendeu a discursar com a garra e o lirismo de oradores do naipe de Alcides Carneiro e outros políticos, de quem absorveu o estilo. O povo dizia que Mocidade falava melhor do que todos os deputados da Assembléia Legislativa. Começava seus discursos com a frase: “Mocidade de minha terra!”... Daí o apelido.

Mocidade dizia se chamar João da Costa e Silva. Depois, descobriu-se que o verdadeiro nome dele era João Silva da Costa. Perguntado se era parente do general Costa e Silva, Mocidade despistava: “ele anda espalhando que é meu parente, mas não dou certeza”. As peripécias de Mocidade estão no livro “O Anjo Torto”, de Gilvan de Brito, publicado em 1985. Vivia entre os políticos, era amigo do governador João Agripino, mas sempre com o espírito de rebeldia contra os poderosos, sempre em defesa das causas populares.

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