
Protegeu-se na fuga para o Egito, como nos retrata Candido Portinari, para escapar das espadas de Herodes, decapitando crianças com a determinação de encontrar Aquele que, segundo as profecias, haveria de nascer. Herodes não o matou, porém, trinta e três anos depois, Pilatos lavou as mãos para que assim o fizessem. Enfim, como nos diz o belíssimo livro, que readquiri no sebo, do escritor romeno, Vintila Horia: “Deus nasceu no exílio”. Para se vivenciar o verdadeiro Natal, o caminho também é a fuga. Fugir do consumismo, do egoísmo, da inveja, da desonestidade, das injustiças que cometemos ou da omissão, deixando que elas sejam cometidas e, sobretudo, da falta de amor e da ofensa ao bem comum.
Mensagens, cartões nos são endereçados num grito uníssono de “Feliz Natal”, o que também nos desejam, em jingle pelo rádio e televisão, “as Casas Lindóia”. “Um, dois ou três, inda passa... industrializar o tema, eis o mal”, adverte Carlos Drummond, em Versiprosa. Este barulho geralmente desconhece que, para viver o Natal com felicidade, é preciso experimentar a coragem da fuga. No poema “Natal”, Jorge de Lima identifica parte desses corajosos: “Feliz de quem, quando o ano termina, possui um doce e acolhedor abrigo: a companheira, o filho, a avó tão rara ou mesmo o amigo com quem possa se reunir em Cristo, e sua vida interior desperte viva de dentro de si uma alma de São Francisco; o amor generoso, o heroísmo estranho de beijar um leproso. De lembrar-se de que há no mundo criaturas de Deus pelo Natal sem companheira, e sem a avó tão rara e sem um beijo de mãe ou um beijo de filho, e até sem um livro que substitua o amigo”.
Se Jesus Cristo nascesse hoje, onde nasceria? Permita, caro leitor, que seja na sua casa, no abrigo do seu teto, mais precisamente em você. Assim poderá haver Natal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário