Fábio Mozart
O famoso médico Dráuzio Varella disse que de médico e louco todo mundo tem um pouco. Por isso, muita gente não resiste à tentação de receitar um remedinho. É remédio natural, um comprimidinho para dor ou azia, o medicamento que a vizinha tomou quando caiu de cama com gripe, ou aquele famoso que se não fizer bem, mal não faz.
Em Itabaiana, um rapaz foi trabalhar de atendente de farmácia, tomou gosto pelas bulas e comprimidos, vestiu uma roupa branca e passou a receitar para os matutos nos dias de feira. Essa figura é quase normal, a não ser por raros acessos de insanidade. Adora se passar por médico. O Conselho Regional de Medicina nunca incomodou nosso “médico”. Seus “colegas” de profissão levam na esportiva a estranha concorrência. Virou folclore.
De remédio e receita, me chega a frase genial do cronista Marcos Tavares: “a vida vem sem bula. Por isso às vezes a gente toma a dose errada”. Vendo o “doutor” auscultando seus pacientes na maior seriedade, as pessoas acostumadas com essa prática, penso na qualidade de vida do interior. As sociedades dos pequenos lugarejos não afastam seus loucos, excluindo-os do trabalho, da escola e da convivência familiar. A loucura sempre fez e fará parte da vida humana, sendo uma propriedade desta. Os cidadãos do interior compreendem isso e sorriem condescendentes quando seus doidos passam apressados em busca de seus delírios.
A maior do “doutor” foi receitar chá de camomila na veia para um senhor que se queixava de insônia. O poeta Jessier Quirino conta que o matuto perguntou ao compadre: “Maracujá é bom pra dormir?”, no que o outro respondeu: “Eu prefiro uma rede”.
O “doutor” raizeiro, que não tem nada de louco, é outra figura folclórica do interior. Canseira, intiriça, tosse braba, difurço, sarna, sangue no fundo, doença do mundo e mordedura de cobra são algumas doenças tratadas pelo Doutor Raiz.
Os estudantes de medicina, em sua maioria, saem de famílias bem situadas. Recusam-se a trabalhar no interior quando se formam nas faculdades pagas com dinheiro público. Ninguém quer sair da capital para atender em posto médico da prefeitura nos lugares mais distantes. Queixam-se do isolamento afetivo da família, da baixa qualidade técnica dos equipamentos, falta de condições de trabalho e remuneração insuficiente.
Portanto, nada de perseguir os raizeiros, curiosos, parteiras e “médicos” malucos. Na minha terra tem um doutor raiz por nome Pedro Zé, raizeiro bom da peste, que fabrica a autêntica garrafada “Fortalecimento do ser humano”. É conhecida como Viagra do mato. Ele diz que morre e não revela a fórmula. “Se falar, perco o mistério e a clientela”, diz Pedro Zé. Sei que contém catuaba, marapuama, nó de cachorro, pau de resposta, jucá e outras raízes.
O famoso médico Dráuzio Varella disse que de médico e louco todo mundo tem um pouco. Por isso, muita gente não resiste à tentação de receitar um remedinho. É remédio natural, um comprimidinho para dor ou azia, o medicamento que a vizinha tomou quando caiu de cama com gripe, ou aquele famoso que se não fizer bem, mal não faz.
Em Itabaiana, um rapaz foi trabalhar de atendente de farmácia, tomou gosto pelas bulas e comprimidos, vestiu uma roupa branca e passou a receitar para os matutos nos dias de feira. Essa figura é quase normal, a não ser por raros acessos de insanidade. Adora se passar por médico. O Conselho Regional de Medicina nunca incomodou nosso “médico”. Seus “colegas” de profissão levam na esportiva a estranha concorrência. Virou folclore.
De remédio e receita, me chega a frase genial do cronista Marcos Tavares: “a vida vem sem bula. Por isso às vezes a gente toma a dose errada”. Vendo o “doutor” auscultando seus pacientes na maior seriedade, as pessoas acostumadas com essa prática, penso na qualidade de vida do interior. As sociedades dos pequenos lugarejos não afastam seus loucos, excluindo-os do trabalho, da escola e da convivência familiar. A loucura sempre fez e fará parte da vida humana, sendo uma propriedade desta. Os cidadãos do interior compreendem isso e sorriem condescendentes quando seus doidos passam apressados em busca de seus delírios.
A maior do “doutor” foi receitar chá de camomila na veia para um senhor que se queixava de insônia. O poeta Jessier Quirino conta que o matuto perguntou ao compadre: “Maracujá é bom pra dormir?”, no que o outro respondeu: “Eu prefiro uma rede”.
O “doutor” raizeiro, que não tem nada de louco, é outra figura folclórica do interior. Canseira, intiriça, tosse braba, difurço, sarna, sangue no fundo, doença do mundo e mordedura de cobra são algumas doenças tratadas pelo Doutor Raiz.
Os estudantes de medicina, em sua maioria, saem de famílias bem situadas. Recusam-se a trabalhar no interior quando se formam nas faculdades pagas com dinheiro público. Ninguém quer sair da capital para atender em posto médico da prefeitura nos lugares mais distantes. Queixam-se do isolamento afetivo da família, da baixa qualidade técnica dos equipamentos, falta de condições de trabalho e remuneração insuficiente.
Portanto, nada de perseguir os raizeiros, curiosos, parteiras e “médicos” malucos. Na minha terra tem um doutor raiz por nome Pedro Zé, raizeiro bom da peste, que fabrica a autêntica garrafada “Fortalecimento do ser humano”. É conhecida como Viagra do mato. Ele diz que morre e não revela a fórmula. “Se falar, perco o mistério e a clientela”, diz Pedro Zé. Sei que contém catuaba, marapuama, nó de cachorro, pau de resposta, jucá e outras raízes.
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