FOTO: Arnaud Costa (no microfone), Hugo Saraiva e o empresário Zé Nunes, em comício memorável na década de 60
Hugo Saraiva e o golpe de 64
Fábio Mozart
No ano de 1963, foi eleito Hugo Saraiva para o cargo de prefeito de Itabaiana. Líder popular, Hugo estava à frente da prefeitura quando, em 1º de abril de 1964, os militares desviaram a rota da democracia, depondo o presidente João Goulart e mergulhando o país em uma longa noite de terror.
Em Itabaiana-PB, a História registra pelo menos dois fatos ligados ao golpe militar, um deles, indigno e infamante, que foi a ação de meia dúzia de pessoas desleais, apontando nomes para a repressão. Por conta disso, muitos foram presos, alguns torturados sob a acusação de pertencerem ao Partido Comunista. Dizem que um ex-prefeito da cidade foi o chefe dessa turma, confeccionando ele mesmo a lista dos que deveriam ser presos. Nas primeiras horas do golpe, foram presos os estudantes Israel Elídio de Carvalho Filho e Francisco Almeida, o Chico Veneno, além do tipógrafo Nabor Nunes de Oliveira. Muitos foram perseguidos, outros perderam os empregos, alguns fugiram.
O outro fato, esse repleto de honra e nobreza: contrariando o desejo de parte dos que o apoiavam, o prefeito Hugo Saraiva se recusou a aprovar o golpe. Pelo contrário, solicitou do seu secretário Arnaud Costa, meu pai, a redação de um documento oficial onde se arriscava a interceder pelos seus conterrâneos presos e protestar contra as arbitrariedades cometidas pelos militares, no afã de brutalizar a legalidade do país. Acuados e indefesos, os demais prefeitos tiveram uma posição de covardia, receando a cassação e até mesmo a prisão física. Mas Hugo Saraiva foi altivo. Sem temer retaliações, decidiu lutar, mesmo diante do chicote da repressão que promovia prisões e perseguições aos políticos.
A sociedade civil estava também encurralada diante das ameaças. Em questão de meses, foram cassados inúmeros vereadores, prefeitos, governadores, deputados e senadores. A situação do país se agravava, tornando-se intolerável. Os militares começaram a fechar o cerco em torno do prefeito Hugo Saraiva, lembrado pela reação desfavorável dele ao golpe. Nesses momentos delicados da vida política do país, muitos capitularam. Faziam fila os colaboradores do regime nos quartéis, para denunciar seus desafetos. De Itabaiana, liderava essa corrente de reacionários o ex-prefeito Antonio Batista Santiago, que não descansaria enquanto não visse o prefeito Hugo na cadeia ou com seu mandato cassado pelo regime.
Cercado pela repressão, Hugo Saraiva renunciou ao cargo para não sofrer a desfeita de ser cassado, com seus direitos políticos cancelados. As botas dos soldados puderam enfim entrar na prefeitura e procurar documentos comprometedores contra o prefeito que saía pela porta da frente. A velha Itabaiana, cenário de batalhas históricas pela liberdade, não se rendeu. Representada pelo seu prefeito, Itabaiana disse não ao golpe dos militares.
No seu lugar, assumiu o vice-prefeito Everaldo de Moraes Pimentel, que fez uma administração exemplar, marcada pela honestidade e zelo com a coisa pública. Um detalhe: naquela época, votava-se para prefeito e para vice-prefeito. O médico Everaldo Pimentel obteve mais votos do que o prefeito eleito.
Hugo Saraiva e o golpe de 64
Fábio Mozart
No ano de 1963, foi eleito Hugo Saraiva para o cargo de prefeito de Itabaiana. Líder popular, Hugo estava à frente da prefeitura quando, em 1º de abril de 1964, os militares desviaram a rota da democracia, depondo o presidente João Goulart e mergulhando o país em uma longa noite de terror.
Em Itabaiana-PB, a História registra pelo menos dois fatos ligados ao golpe militar, um deles, indigno e infamante, que foi a ação de meia dúzia de pessoas desleais, apontando nomes para a repressão. Por conta disso, muitos foram presos, alguns torturados sob a acusação de pertencerem ao Partido Comunista. Dizem que um ex-prefeito da cidade foi o chefe dessa turma, confeccionando ele mesmo a lista dos que deveriam ser presos. Nas primeiras horas do golpe, foram presos os estudantes Israel Elídio de Carvalho Filho e Francisco Almeida, o Chico Veneno, além do tipógrafo Nabor Nunes de Oliveira. Muitos foram perseguidos, outros perderam os empregos, alguns fugiram.
O outro fato, esse repleto de honra e nobreza: contrariando o desejo de parte dos que o apoiavam, o prefeito Hugo Saraiva se recusou a aprovar o golpe. Pelo contrário, solicitou do seu secretário Arnaud Costa, meu pai, a redação de um documento oficial onde se arriscava a interceder pelos seus conterrâneos presos e protestar contra as arbitrariedades cometidas pelos militares, no afã de brutalizar a legalidade do país. Acuados e indefesos, os demais prefeitos tiveram uma posição de covardia, receando a cassação e até mesmo a prisão física. Mas Hugo Saraiva foi altivo. Sem temer retaliações, decidiu lutar, mesmo diante do chicote da repressão que promovia prisões e perseguições aos políticos.
A sociedade civil estava também encurralada diante das ameaças. Em questão de meses, foram cassados inúmeros vereadores, prefeitos, governadores, deputados e senadores. A situação do país se agravava, tornando-se intolerável. Os militares começaram a fechar o cerco em torno do prefeito Hugo Saraiva, lembrado pela reação desfavorável dele ao golpe. Nesses momentos delicados da vida política do país, muitos capitularam. Faziam fila os colaboradores do regime nos quartéis, para denunciar seus desafetos. De Itabaiana, liderava essa corrente de reacionários o ex-prefeito Antonio Batista Santiago, que não descansaria enquanto não visse o prefeito Hugo na cadeia ou com seu mandato cassado pelo regime.
Cercado pela repressão, Hugo Saraiva renunciou ao cargo para não sofrer a desfeita de ser cassado, com seus direitos políticos cancelados. As botas dos soldados puderam enfim entrar na prefeitura e procurar documentos comprometedores contra o prefeito que saía pela porta da frente. A velha Itabaiana, cenário de batalhas históricas pela liberdade, não se rendeu. Representada pelo seu prefeito, Itabaiana disse não ao golpe dos militares.
No seu lugar, assumiu o vice-prefeito Everaldo de Moraes Pimentel, que fez uma administração exemplar, marcada pela honestidade e zelo com a coisa pública. Um detalhe: naquela época, votava-se para prefeito e para vice-prefeito. O médico Everaldo Pimentel obteve mais votos do que o prefeito eleito.
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