A pobreza é uma benção
Fábio Mozart
Minha avó costumava dizer que “pobre é o diabo”. Daí aquela velha expressão “pobre diabo” quando a gente quer menosprezar o semelhante. Já o filósofo Biu Penca Preta discorda do cálculo patrimonial do rei das trevas. Conforme sua lógica mercantilista, todo mundo só quer ser filho de Deus. Ele, sendo cria do diabo, portanto é filho único e herdeiro dos seus inúmeros haveres. Encerrando o sábio raciocínio, Biu pergunta e responde, no auge do cabotinismo:
--- Existe vida inteligente na terra? Sim, mas eu estou só de passagem.
Falando em diabo, Biu costuma contar a piada do cara que morreu e entrou na fila do inferno brasileiro, que era longa feito fila de hotel de um real. O outro perguntou:
--- Por que ta todo mundo querendo entrar no inferno brasileiro, e no inferno americano ninguém quer ir?
O cara explicou:
--- No inferno americano é tudo certinho: todo dia o cabra bebe um copo de merda, sem falhar. Aqui, no inferno brasileiro, é uma esculhambação: no dia que tem merda, não tem copo, e no dia que tem copo e merda não tem quem despache!
Meu compadre João Deon envia, do alto sertão da Paraíba, um arrazoado sobre as vantagens de ser pobre. Para ele, o pobre é valorizado, porque nesse mundo de mulher interesseira, só uma sincera pode dar bola a um pé rapado. Ser pobre é saudável, a gente tem uma vida de atleta, andando a pé, correndo atrás de ônibus e malhando para pular muro de campo de futebol.
Afasta o chato, porque nenhum vendedor te liga para vender buginganga. Além de ser liso, o pobre também não tem telefone. E a emoção? A gente nunca sabe se o dinheiro vai chegar até o fim do mês. É uma vida sem rotina, imprevisível.
Nesses tempos inseguros, o pobre não tem medo de ser roubado. Com nossa fama de lascados, ninguém nos pede dinheiro emprestado. E gratificante: sem dinheiro para comprar computador, o pobre não terá que ler textos cretinos como este.
www.fabiomozart.com
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Fábio Mozart
Minha avó costumava dizer que “pobre é o diabo”. Daí aquela velha expressão “pobre diabo” quando a gente quer menosprezar o semelhante. Já o filósofo Biu Penca Preta discorda do cálculo patrimonial do rei das trevas. Conforme sua lógica mercantilista, todo mundo só quer ser filho de Deus. Ele, sendo cria do diabo, portanto é filho único e herdeiro dos seus inúmeros haveres. Encerrando o sábio raciocínio, Biu pergunta e responde, no auge do cabotinismo:
--- Existe vida inteligente na terra? Sim, mas eu estou só de passagem.
Falando em diabo, Biu costuma contar a piada do cara que morreu e entrou na fila do inferno brasileiro, que era longa feito fila de hotel de um real. O outro perguntou:
--- Por que ta todo mundo querendo entrar no inferno brasileiro, e no inferno americano ninguém quer ir?
O cara explicou:
--- No inferno americano é tudo certinho: todo dia o cabra bebe um copo de merda, sem falhar. Aqui, no inferno brasileiro, é uma esculhambação: no dia que tem merda, não tem copo, e no dia que tem copo e merda não tem quem despache!
Meu compadre João Deon envia, do alto sertão da Paraíba, um arrazoado sobre as vantagens de ser pobre. Para ele, o pobre é valorizado, porque nesse mundo de mulher interesseira, só uma sincera pode dar bola a um pé rapado. Ser pobre é saudável, a gente tem uma vida de atleta, andando a pé, correndo atrás de ônibus e malhando para pular muro de campo de futebol.
Afasta o chato, porque nenhum vendedor te liga para vender buginganga. Além de ser liso, o pobre também não tem telefone. E a emoção? A gente nunca sabe se o dinheiro vai chegar até o fim do mês. É uma vida sem rotina, imprevisível.
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