Ninguém nasce em Mari
Fábio Mozart
Quando habitava em Mari, minha mulher inventou de gestar um bruguelo, achando pouco os quatro que eu já dava de comer. De certa forma fiquei satisfeito, sendo meu desejo deixar um herdeiro nascido naquela terra que tão bem me acolheu. Mas ninguém nasce em Mari que lá não tem maternidade. Nasce em Sapé, cidade que fica a 8 quilômetros de distância. Então meu bruguelo nasceu em Sapé, no ano do bicentenário da Revolução Francesa, por isso recebendo o nome de Maximilien Robespierre.
Quase vinte anos depois, a situação continua a mesma. Mari não tem estrutura para receber seus filhos que vêm ao mundo. Como não existe mais a figura da parteira, não há nenhuma chance de se nascer naquele lugar de clima tão aprazível. O hospitalzinho de lá já foi até interditado pela Vigilância Sanitária, de tão acanhado e sem estrutura. Santa Cecília, sua padroeira (do hospital), morre de vergonha da situação. Dizem que o custo de manutenção de uma maternidade não compensa e a entidade não tenta se adequar, vivendo em crise crônica. Desse jeito, só os bebês muito apressadinhos que não esperam chegar a Sapé nascem de todo jeito a caminho da cidade vizinha, cuja maternidade também não é lá essas coisas.
Veja que coisa esquisita: toda uma geração de uma comunidade não nasceu em sua terra, por falta de estrutura hospitalar. Sem poder nascer e sem hospitais, o povo morre à míngua. O dono do hospital é um homem muito rico. Por causa do seu profundo amor ao povo mariense, mantém ainda a casa de saúde, só Deus sabe como, embora muita gente do contra assegure que, no caso, trata-se de “pilantropia”, uma mistura de filantropia com malandragem, que esse povo não dá ponto sem nó.
O prefeito do lugar é um camarada que gosta do seu torrão, sendo ainda um cara confiante e dotado de sentimentos nobres. O sujeito é tão generoso e otimista que nem joga na Mega Sena, porque tem certeza que vai ganhar e quer dar uma chance à galera. Antonio Gomes, o “Juruna”, anda preocupado com a saúde dos seus munícipes. Espera-se que, ao final do seu mandato, o mariense já possa nascer, porque pra morrer qualquer lugar serve.
FOTO: O músico Maximilien Robespierre, mariense que nasceu em Sapé
Fábio Mozart
Quando habitava em Mari, minha mulher inventou de gestar um bruguelo, achando pouco os quatro que eu já dava de comer. De certa forma fiquei satisfeito, sendo meu desejo deixar um herdeiro nascido naquela terra que tão bem me acolheu. Mas ninguém nasce em Mari que lá não tem maternidade. Nasce em Sapé, cidade que fica a 8 quilômetros de distância. Então meu bruguelo nasceu em Sapé, no ano do bicentenário da Revolução Francesa, por isso recebendo o nome de Maximilien Robespierre.
Quase vinte anos depois, a situação continua a mesma. Mari não tem estrutura para receber seus filhos que vêm ao mundo. Como não existe mais a figura da parteira, não há nenhuma chance de se nascer naquele lugar de clima tão aprazível. O hospitalzinho de lá já foi até interditado pela Vigilância Sanitária, de tão acanhado e sem estrutura. Santa Cecília, sua padroeira (do hospital), morre de vergonha da situação. Dizem que o custo de manutenção de uma maternidade não compensa e a entidade não tenta se adequar, vivendo em crise crônica. Desse jeito, só os bebês muito apressadinhos que não esperam chegar a Sapé nascem de todo jeito a caminho da cidade vizinha, cuja maternidade também não é lá essas coisas.
Veja que coisa esquisita: toda uma geração de uma comunidade não nasceu em sua terra, por falta de estrutura hospitalar. Sem poder nascer e sem hospitais, o povo morre à míngua. O dono do hospital é um homem muito rico. Por causa do seu profundo amor ao povo mariense, mantém ainda a casa de saúde, só Deus sabe como, embora muita gente do contra assegure que, no caso, trata-se de “pilantropia”, uma mistura de filantropia com malandragem, que esse povo não dá ponto sem nó.
O prefeito do lugar é um camarada que gosta do seu torrão, sendo ainda um cara confiante e dotado de sentimentos nobres. O sujeito é tão generoso e otimista que nem joga na Mega Sena, porque tem certeza que vai ganhar e quer dar uma chance à galera. Antonio Gomes, o “Juruna”, anda preocupado com a saúde dos seus munícipes. Espera-se que, ao final do seu mandato, o mariense já possa nascer, porque pra morrer qualquer lugar serve.
FOTO: O músico Maximilien Robespierre, mariense que nasceu em Sapé
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