
Meninote com seus oito ou nove anos quando tomou conhecimento do poema, Dedé passou a infância e adolescência recitando-o ou fazendo uma leitura mental antes de dormir. Mas o tempo encarregou-se de limpar da sua memória o soneto tão amado. Ficaram apenas três estrofes:
E a Vida passa... efêmera e vazia:
Um adiamento eterno que se espera,
Numa eterna esperança que se adia.
O nosso estimado médico passou mais de 30 anos procurando em vão os versos que faltam para recompor a “poesia símbolo” de sua infância. Lembrar do soneto na íntegra passou a ser uma obsessão. Andou por muitos sebos, consultou literatos, e nada! A poesia simplesmente desapareceu, deixando seu mais fervoroso leitor na dúvida: será que essa poesia nunca existiu, foi apenas fruto da imaginação de criança?
A esperança é o melhor dos médicos, já dizia o provérbio. Ao médico Dr. Dedé, tenho o prazer de anunciar que descobri o texto completo do seu amado poema, escrito por Raul de Leoni, poeta que morreu há mais de oitenta anos e ainda hoje é venerado por seus inúmeros leitores, a exemplo do nosso esculápio. Nasceu em Petrópolis em 1895 e faleceu em 1926. Foi diplomata e deputado. Morreu de tuberculose, uma doença comum aos poetas da época.
Ao insigne editor Geraldo Aguiar, peço encarecidamente que leve ao conhecimento do nosso Dr. Dedé o teor do seu querido soneto.
LEGENDA DOS DIAS
O Homem desperta e sai cada alvorada
Para o acaso das cousas... e, à saída,
Leva uma crença vaga, indefinida,
De achar o Ideal nalguma encruzilhada...
As horas morrem sobre as horas... Nada!
E ao Poente, o Homem, com a sombra recolhida,
Volta, pensando: «Se o Ideal da Vida
Não veio hoje, virá na outra jornada...
Ontem, hoje, amanhã, depois e, assim,
Mais ele avança, mais distante é o fim,
Mais se afasta o horizonte pela esfera;
E a Vida passa... efémera e vazia:
Um adiamento eterno que se espera,
Numa eterna esperança que se adia.
Foto: poeta Raul de Leoni
Nenhum comentário:
Postar um comentário